Complexo Cultural, Social e Esportivo da Liga Solidária | 2022

  • Concurso Público Nacional

  • Local

    São Paulo, SP

  • Ano

    2022

  • Área do Terreno

    43.667m²

  • Área do Projeto

    4.735m²

  • Existe um lugar onde podemos vivenciar o tempo do encontro. Uma paisagem simbólica do engajamento presente e da esperança futura de uma convivência harmoniosa e democrática de pessoas de todas as origens e idades. É partir do reconhecimento desse oásis socioambiental oferecido pela Liga Solidária e pelo Educandário Dom Duarte que buscamos propor uma arquitetura pautada por uma simplicidade e precisão capazes de valorizar a vocação de suas instituições e potencializar seu compromisso inestimável com nossa sociedade. Um Complexo onde a experiência cívica da reunião e integração geradas pela cultura, educação, esporte e lazer possam nos levar ao legado fundamental da coexistência de todos nós. Assim, para a construção desse novo lugar, adotamos as seguintes premissas: a. O respeito imprescindível pela paisagem natural e patrimonial existente no EDD. Assim, o Eixo Histórico e a vegetação abundante são preservados por meio de uma presença integrada e discreta das novas construções com esse ambiente, sutilmente anunciadas pela torre vertical em seu acesso principal. b. A inauguração de um caráter próprio pelo novo Complexo da Liga como espaço simbólico de centro comunitário para os seus usuários e todas as comunidades ao seu redor, somando-se assim aos papéis indispensáveis e complementares de cada equipamento existente no EDD. c. A preservação da atmosfera das valiosas clareiras existentes evitando uma ocupação demasiada com novas edificações por meio de uma inserção arquitetônica equilibrada e que zela pela escala, visuais, luz e aeração encontradas: uma paisagem natural que recebe uma paisagem arquitetônica. d. A concepção de espaços de apropriação livre, versáteis e capazes de abrigar uma multiplicidade de atividades para além daquelas a que estão inicialmente destinadas, ainda que de ampla diversidade programática. e. O desenvolvimento da nova construção em uma única cota – o platô existente do Campo 3 – buscando o menor impacto possível e a total preservação do ambiente ao redor, principalmente a sua topografia e vegetação. f. A organização do Complexo em único nível operacional que concentra todas as atividades principais sem qualquer necessidade de locomoções verticais ou equipamentos mecânicos, garantindo a fundamental acessibilidade plena aos seus espaços e entradas por meio de rampas e passarelas fluidas e graduais. g. A possibilidade de um trânsito predominantemente livre por meio de uma arquitetura que potencializa uma entidade ‘portas abertas’, receptiva e incentivadora da apropriação criativa de seus diversos espaços. Ainda assim, a necessidade solicitada de controle de seus acessos e fluxos se faz atendida. h. Realizar o máximo com o mínimo de matéria possível é uma busca prioritária perante a chance que a arquitetura tem de se dispor como exemplo pedagógico de valores tão urgentes. bbAssim, a coerência entre todas as premissas anteriores se consolida por meio de tecnologias de nítida consciência ambiental, adoção de materiais leves que resultem em pegadas ambientais mínimas e de estratégias arquitetônicas que garantam um conforto climático adequado. i. Por fim, entendemos a arquitetura que propomos como um possível instrumento educador para as infâncias e demais faixas etárias, evidenciando em seus espaços, funcionamentos e materialidades um rebatimento dos ideais democráticos e sustentáveis que essas instituições exercem. Assim, a Liga Solidária funda junto ao EDD mais um centro de acolhimento e convergência socioeducativa. Considerando a contribuição secular da Liga, o novo Complexo deve preservar a postura aberta a todos os bairros, comunidades, manifestações socioculturais e econômicas ao redor. A latente carência de espaços públicos nesse contexto, fez-nos reforçar a busca por uma arquitetura capaz de acolher a diversidade de seus visitantes e de vivenciarem aquilo que lhes estimula, seja de modo individual ou coletivo. Ambientes onde se sintam acolhidos, integrantes e livres para se expressar e alcançar novos vínculos entre eles e a instituição. Seguindo a morfologia que prevalece em todo o EDD, partimos de uma organização de cheios e vazios aberta e integrada com a paisagem existente. Um conjunto de edifícios inseridos em meio a natureza, mas com um aspecto singular de também serem unidos por um ambiente arquitetônico de congregação definido pela praça central e a marquise ao seu redor. Entendemos a clareira desse Campo 3 como um vazio preexistente e respeitado. Um espaço à espera do novo Complexo que permite uma implantação compacta e de impacto mínimo, tanto na vegetação como na topografia. Assim, tudo se concentra nessa cota e se conecta de modo direto pelo grande eixo que nasce do acesso principal do EDD até o largo do Teatro existente. No Campo 2 uma passarela-marquise configura um percurso amalgamado à paisagem conduzindo todos por um passeio que exalta a natureza existente. É desse vetor que derivam os acessos principais e secundários para os programas independentes. Nesse ambiente livre também imaginamos a inserção da Expo Liga 100 anos – sempre aberta e disponível aos visitantes – bem como a Área Externa Coberta para Feiras e Eventos. Uma nova paisagem de transição é inaugurada pela praça central do projeto ativada por diversos usos e possibilidades. Essa mesma paisagem introspectiva se abre e integra constantemente com a natureza ao redor, por meio da escala do seu vazio que traz as árvores para dentro de si, pelas diversas aberturas e passagens existentes entre os programas e pela materialidade transparente de suas superfícies que permitem se enxergar através. Assim, a natureza verde é sensorialmente trazida para as espacialidades internas do novo complexo. A complexa topografia do EDD é atenuada por meio de leves transições de níveis sempre acessíveis. Como uma arquitetura topográfica, os usuários são conduzidos por inflexões do chão que definem rampas e passarelas multifuncionais – como vetores de fluxos e abrigo de importantes atividades exteriores. São esses eixos que também conectam estrategicamente todo o conjunto em quatro pontos principais: Campo 1 (futebol), Campo 2 (praça de acesso, feiras e atividades), Campo 3 (novo Complexo Liga), Praça Superior (ginásio e skate) e o Largo do Teatro. Os caminhos ideais que seguem as próprias cotas de nível para suas transposições foram preservados, somando-se novos com o mesmo critério. A partir da chegada pelo Campo 2, todo o novo Complexo se desenvolve em um único nível regulador: um edifício térreo e plenamente acessível, prescindindo inclusive de qualquer elevador. É essa estratégia que garante uma horizontalidade – e consequente leveza – construtiva de uma edificação de andar único. No centro da composição a nova praça se define como centro idealizado para as inúmeras atividades desejadas pela comunidade da Liga/EDD e suas várias faixas etárias. Esse espaço de livre apropriação se oferece para que nele cada um possa encontrar seu tempo e espaço numa convivência democrática e complementar. Um lugar para trocas coletivas, aprendizados mútuos e respeitosos com o outro. Ao seu redor, estão distribuídos quatro setores programáticos conectados pelo passeio coberto perimetral e organizados segundo sua vocação programática, critérios de acesso e relações entre exterior e interior. Quanto aos controles de acesso, o Complexo pode ser integralmente fechado quando necessário e funcionar com autonomia plena em relação aos fluxos do EDD. Ainda assim, cada um dos setores usufrui de certa independência, podendo ser acessados separadamente para eventos externos e parciais. Abrindo-se para públicos de todas as idades, é imprescindível pensar que o projeto dialogue intrinsicamente com a primeira infância, crianças, adolescentes e idosos, valorizando os critérios de bem-estar, liberdade espacial, bem como atmosferas espaciais que acolham essa dinâmica valiosa de cada um deles. Com isso, uma arquitetura de linguagem aberta e sem barreiras, configurada por uma transparência física, material e simbólica. A isso se somam todas as infraestruturas, banheiros e vestiários acessíveis e multigênero. Tecnologia O aspecto condutor do sistema estrutural do complexo carrega a intenção de expor por meio da materialidade a necessidade de práticas sustentáveis. Há um envolvimento direto do material com as edificações, onde se manifesta a ideia de que a estrutura pode ser uma força motivadora para o projeto arquitetônico, tanto quanto forma ou significado. O emprego da madeira como elemento de sustentação das construções traz consigo além da capacidade de resistência mecânica, características ecológicas por ter sua origem proveniente de fontes renováveis e de oferta ilimitada quando geridas com responsabilidade. A escolha pela composição de peças estruturais com seções reduzidas para formulação da estrutura amplia a possibilidade de seleção de espécie da matéria prima conforme a demanda sem que seja comprometida a performance global do conjunto (nesse aspecto consideramos o uso do Pinus ou Eucalipto). Com o auxílio de componentes metálicos para realizar a conexões entre elementos estruturais, se torna viável a aplicação da madeira para vencer os grandes vãos solicitados pelas tipologias arquitetônicas. O processo de fabricação é realizado de modo preciso em um ambiente controlado, garantindo o desempenho da peça produzida, sendo realizada somente a montagem no canteiro de obras, auxiliando na agilidade da logística de montagem e diminuindo o risco de acidentes. O arranjo estrutural prioriza manter um vocabulário, onde a leveza e flexibilidade do material proporciona variações pontuais para definir a constituição de ambientes distintos. Através do processo de pré-fabricação conferido pelo emprego de elementos de madeira, é possível realizar um método de montagem eficiente, com uma redução de desperdícios e a garantia de uma economia para a obra. A proposta estrutural também respeita todos os coeficientes de segurança e níveis de resistência para que a estabilidade do sistema seja preservada. Para os fechamentos, em diálogo com a tecnologia precisa e industrial da estrutura, painéis de materiais leves e modulares como telhas metálicas, policarbonato, vidro, compensados se somam também ao possível uso de tijolos e cerâmicas, tanto para divisões como para pisos internos e externos.

  • Autores

    André Biselli Sauaia, Daniel Corsi, Dani Hirano, Laura Pardo

  • Colaboradores

    Arq. Christian Salmeron, Arq. Leonardo Rocha Moura, Est. Vitor Augusto Teng

  • Consultores

    Estruturas de Madeira: Eng. Helio Olga, Arq. Rodrigo Giorgi Paisagismo: Arq. Raul Pereira, Arq. Paula Martins Sustentabilidade: Arq. Eng. Marcelo Figueiredo Mello Video: Arq. David Chang